A história da indústria de curtumes, onde quer que esta se encontre localizada, está e estará sempre ligada à história da humanidade. Não é possível falarmos de curtumes sem que nos ocorra imediatamente a imagem do homem primitivo vestido com peles, que utilizava para o seu agasalho.
Esta é, possivelmente, a origem de toda a indústria de curtumes e, naturalmente, também da indústria de curtumes de Portugal.
Ao longo dos séculos esta atividade foi sofrendo inovações, beneficiando do espírito inventivo dos mais diversos povos e civilizações que sempre reconheceram as características únicas da pele para as mais diversas aplicações e a trabalharam para satisfazer as suas necessidades.
Também a este nível os portugueses tiveram influência no curso do desenvolvimento dos curtumes, através dos Descobrimentos, que proporcionaram a introdução de novas substâncias vegetais no processo de curtumes, curtientes e gorduras, provenientes dos novos mundos.
Em Portugal os primeiros esboços do que viria a ser a indústria de curtumes começam a surgir e nos séculos XVI e XVII, nos quais se assistiu a uma concentração de artesãos dos curtumes em Guimarães, Porto e Alcanena, que continuam a ser os maiores pólos aglutinadores do sector em Portugal. Apesar da concentração mais pronunciada nestas localidades, a atividade encontrava-se relativamente bem disseminada pelo país, havendo registos de laboração em diversas regiões do país, como é o caso da região do Alentejo, da Serra da Estrela, da ilha da Madeira e de Lisboa, onde ainda hoje existem unidades de curtumes em funcionamento.
No séc. XVIII, com D. João V, apareceram as primeiras unidades de manufatura de couro em Portugal. Em 1786 foi concedido o primeiro Alvará Régio para curtimenta em Alcanena, à fábrica de João Rodrigues. O alvará permitia aos seus detentores a utilização das armas reais sobre os pórticos das fábricas, restando ainda dessa altura um brasão pertencente à fábrica de Manoel Francisco Galvea, que se encontra num edifício de uma empresa atualmente ligada ao sector de curtumes.
Também nas outras regiões mencionadas existem ainda vestígios da história dos curtumes portugueses, sendo que em Guimarães ainda se encontram unidades a laborar em pleno centro histórico – declarado património mundial pela UNESCO – e o rio que percorre a cidade é ainda conhecido como “o rio de couros”. No entanto, os curtumes só nascem verdadeiramente enquanto indústria em Portugal em meados do século XIX em resultado do advento da revolução industrial, nascida na Inglaterra, e que progressivamente se foi estendendo ao resto da Europa. A manufatura artesanal vai dando lugar à mecanização, multiplicando o rendimento do trabalho e aumentando a produção global.
Assiste-se ao fabrico industrializado de anilinas com uma melhoria na gama de cores e uma presença mais significativa no campo da moda. Nos finais desse século começa a despontar a utilização da tecnologia de curtume ao crómio. No séc. XX a indústria continua a evoluir com a conversão tecnológica na esmagadora maioria das unidades da curtimenta a vegetal para a curtimenta a crómio e com a realização de investimentos na modernização e aumento da capacidade produtiva.
A partir da década de 1970 a dimensão ambiental assume especial preponderância no desenvolvimento da indústria, levando a que os agentes, individualmente e em conjunto, realizassem um esforço de investimento bastante significativo nesta área, regenerando o sector em termos ambientais e preparando-o para respeitar os mais elevados padrões de qualidade ambiental.
Recentemente, a par da consolidação da sua estratégia ambiental, o sector de curtumes português tem diversificado os destinos sectoriais e geográficos da sua produção e tem vindo a posicionar-se nos segmentos de maior valor acrescentado, nos quais o design, a moda, e as exigências de qualidade do produto final são determinantes para o sucesso das empresas.
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